A permanência do aluno com autismo na sala de aula está diretamente relacionada à qualidade do ambiente escolar, ao acolhimento emocional e às estratégias de ensino.
Muitas vezes, o aluno não permanece na sala porque o ambiente é imprevisível, barulhento, pouco acessível ou socialmente exigente demais. É importante lembrar que, para muitas crianças com autismo, o excesso de estímulos, a dificuldade de compreensão da linguagem oral ou a falta de apoio individualizado pode gerar ansiedade, frustração e comportamentos de fuga ou isolamento.
A seguir, apresentamos estratégias práticas e fundamentadas para ajudar o aluno com autismo a permanecer com mais conforto e segurança no ambiente da sala de aula:
Entender os motivos da evasão da sala
Antes de qualquer coisa, é essencial observar e registrar quando, como e por que o aluno costuma sair da sala ou se recusar a permanecer. Alguns dos motivos mais comuns incluem:
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Sensibilidade sensorial: ruídos altos, iluminação forte, cheiros ou toques inesperados podem causar desconforto.
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Dificuldades de comunicação: o aluno não consegue expressar o que sente ou deseja, o que gera frustração.
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Excesso de demandas ou tarefas mal adaptadas: propostas muito difíceis, sem mediação ou significado para ele.
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Falta de previsibilidade: mudanças bruscas na rotina ou atividades sem uma estrutura clara.
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Exigências sociais: interações com colegas ou adultos que geram ansiedade.
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Busca por regulação sensorial ou emocional: ele pode precisar de pausas para se acalmar. Identificar a causa é essencial para pensar nas soluções corretas.
Organização da rotina e previsibilidade
Pessoas com autismo geralmente se sentem mais seguras quando sabem o que esperar. Por isso, a rotina deve ser estável e visível:
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Quadro de rotina visual: com imagens ou palavras, mostrando o que acontecerá ao longo do dia.
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Avisos prévios sobre mudanças: sempre que houver algo diferente, prepare o aluno com antecedência, de forma verbal e visual.
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Tempo e espaço bem delimitados: deixe claro onde ele se senta, onde faz atividades, onde pode guardar seus materiais e onde pode ir para se acalmar.
Uso da Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA)
Muitos alunos com autismo têm dificuldades com a linguagem oral, mas isso não significa que não queiram ou não possam se comunicar. A Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) oferece meios diversos para que o aluno se expresse, compreenda o ambiente e interaja com o mundo.
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Recursos visuais: cartões com figuras, pranchas de escolha, sistemas PECS, aplicativos no tablet ou comunicação por gestos.
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Quadros de comunicação: para expressar desejos, sentimentos ou necessidades básicas (“quero ir ao banheiro”, “estou cansado”, “preciso de ajuda”).
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Incorporação ao dia a dia escolar: a CAA deve estar disponível em todas as situações, não apenas em momentos terapêuticos.
Exemplo de recurso visual:
Apoio emocional
É fundamental que o aluno se sinta acolhido, seguro e aceito como é. Algumas estratégias incluem:
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Estabelecer vínculo afetivo: com o professor, mediador ou colegas.
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Criar um “cantinho da calma” na sala: com recursos sensoriais, onde ele possa ir quando estiver sobrecarregado.
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Oferecer pausas planejadas: para que ele possa se regular sem que isso seja visto como punição.
Incentivo à interação social respeitosa
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Mediação das relações: oriente os colegas a interagir com respeito e acolhimento.
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Propostas em duplas ou pequenos grupos: para facilitar a socialização.
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Trabalhar habilidades sociais: por meio de jogos, histórias ou dramatizações.
Conclusão
Garantir a permanência do aluno com autismo em sala de aula exige um olhar atento, flexível e acolhedor. Cada comportamento é uma forma de comunicação, e cada dificuldade pode se transformar em oportunidade de aprendizagem, desde que o ambiente esteja preparado para acolher. Quando o aluno se sente compreendido, respeitado e apoiado, ele permanece — e aprende.
Parabéns professora Maria Cláudia, concordo plenamente com as informações em estudo, informações essas que nos ajuda bastante em nosso cotidiano.
obrigada pelo comentário!
Excelente texto. Não tenho dificuldades em mantê-los na aula, porém ,em casa, eles dormem muito tarde e chegam à escola com sono e muitas vezes sob efeito dos remédios. As mães não conseguem fazer com que eles durmam cedo. Eu tenho um que 3h da madrugada está acordado. Sou professora do infantil IV. Quais seriam as estratégias para essas mães?
Quando o aluno com autismo não dorme bem, é natural que ele apresente mais dificuldades para se concentrar, controlar emoções, seguir rotinas e interagir. O sono é essencial para o equilíbrio emocional e cognitivo — e a privação afeta ainda mais crianças no espectro.
Acredito que inicialmente a grande estratégia seja a conversa com a família, compreender o que está acontecendo e incentivar e orientar uma rotina noturna para aquela criança. evitar uso de eletrônicos pelo menos 1 hora antes de dormir, realizar uma rotina noturna de forma sequencial: banho, contação de histórias, música calma e relaxante, luz calma. Podemos também se utilizar de recursos visuais para organizar essa rotina. Se o problema persistir, é importante a avaliação do pediatra para saber da necessidade de alguma suplementação, com melatonina, por exemplo, ou algum outro fármaco.
Espero ter contribuído e obrigada pela troca. O próximo post tentarei trazer informações sobre o sono e o aluno com autismo. Valeu pela dica!!
Parabéns professora , inclusão na prática , com auxílio e acolhimento , entendendo as intervenções que podem ser trabalhados para que os alunos tenham as mesmas oportunidades de construção de conhecimento .
Obrigada pelo seu comentário!
Muito bom! Parabéns!